Em março de 2020, bilhões de pessoas olhavam pelas janelas para um mundo que não reconheciam mais. De repente, confinadas em suas casas, suas vidas haviam se reduzido abruptamente a quatro paredes e telas de computador. As ordens de confinamento se espalharam pelo mundo, devido a pandemia, enquanto líderes nacionais diziam à população para permanecer em casa e só sair para comprar suprimentos essenciais.
A abordagem diferenciada dos países
Enquanto a maioria dos países enfrentou severas restrições, alguns como Suécia, Taiwan, Uruguai e Islândia optaram por não decretar lockdowns rígidos. Em vez disso, essas nações implementaram medidas que incluem restrições nas aglomerações, testes em larga escala e quarentena para os infectados, evitando intervenções mais drásticas.
Quase cinco anos após o início da pandemia, estudos começaram a surgir, oferecendo uma visão mais clara do impacto dessas abordagens. Um estudo realizado em 2024 comparou as taxas de morte entre Suécia, Noruega, Dinamarca e Finlândia durante os primeiros anos da pandemia. Enquanto a Suécia manteve suas portas abertas e se baseou na mudança de comportamento da população, os outros três países adotaram lockdowns rigorosos.
Mortes em excesso durante a pandemia de covid19
Os dados mostram que a Suécia sofreu um aumento significativo nas mortes em excesso durante as ondas iniciais da pandemia. No entanto, a mortalidade nas outras nações, apesar de inicialmente mais baixa, também apresentou altos índices em anos posteriores. Um dos fatores que emergiu destes estudos é que, embora lockdowns tenham sido eficazes em certos momentos, as consequências sociais e econômicas resultantes das restrições levantaram debates não resolvidos sobre sua eficácia e necessidade.
Reflexões de cidadãos suecos
Anna McManus, uma administradora de recursos humanos, refletiu sobre como a abordagem sueca a fez sentir que seu país estava no caminho certo, especialmente em relação ao cuidado de cães durante as restrições. Contudo, ela expressou incertezas sobre se a estratégia sem lockdown poderia ter salvado mais vidas. “Quero basear isso em fatos, como quantas pessoas morreram”, disse McManus.
A realidade é que, em muitos países, a falta de informações precisas sobre as mortes e o impacto da COVID-19 complicaram a avaliação das políticas de saúde pública. A comparabilidade entre as nações é sempre contestada, especialmente quando se considera as diferenças populacionais e estrutura social.
Volta à normalidade
À medida que os países começaram a reabrir, muitos cidadãos experimentaram sentimentos mistos. O ex-funcionário público escocês Bill Allison, por exemplo, viu sua vida social encolher após o confinamento. “Eu me tornei bastante introvertido e agora acho que não quero interagir com as pessoas tanto quanto antes”, afirmou.
Além disso, as consequências do lockdown e das medidas sociais foram extensas. Uma pesquisa sugere que o fechamento de escolas resultou em uma queda significativa nas habilidades matemáticas das crianças, estimando um declínio médio de 14%, o equivalente a sete meses de aprendizado perdido.

Impactos em saúde mental e social
O sentimento de solidão e o aumento da violência doméstica durante o período de confinamento foram problemas alarmantes relatados em diversos países. As interrupções nas rotinas sociais e educativas geraram um impacto profundo e, muitas vezes, irreversível na população, especialmente entre as crianças e os jovens.
Lições aprendidas
Ainda hoje, discute-se como futuros governos podem lidar com possíveis pandemias. A experiência da COVID-19 sublinhou a necessidade de um plano claro que facilite a aceitação e a adesão pública a ações que visem proteger a saúde coletiva.
Ao olhar para o passado, muitas perguntas permanecem sem respostas. “Nós realmente aprendemos algo com isso?”, questionou McManus, lembrando-se dos debates intensos que ocorreram durante a pandemia. Se o lockdown foi essencial ou excessivo ainda é uma discussão aberta, com muitas lições a serem extraídas para lidar com futuras crises de saúde pública.
Os efeitos das ações tomadas, ou não tomadas, ainda estão se desdobrando, e as respostas só se tornarão mais evidentes com o passar do tempo.