O Brasil está em alerta para o ressurgimento do sorotipo 3 da dengue (DENV-3), apontado por cientistas brasileiros como um fator de risco para novos surtos significativos da doença. Este cenário ganha relevância devido à falta de imunidade da população contra esse sorotipo, que não circulava amplamente no país há mais de 15 anos.
Um estudo recente publicado no Journal of Clinical Virology destacou que, enquanto os sorotipos 1 e 2 (DENV-1 e DENV-2) continuam em circulação, o retorno do DENV-3 pode desencadear epidemias mais graves. A última grande ocorrência de DENV-3 no Brasil aconteceu em 2007, mas dados recentes mostram que ele está se tornando predominante em algumas regiões.
O retorno do DENV-3: um alerta em São José do Rio Preto
São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, ilustra bem a situação atual. A cidade registrou um aumento exponencial de casos de dengue pelo DENV-3. Em 2023, foram reportados 106 casos, mas esse número saltou para 1.008 em 2024. Segundo o professor Maurício Lacerda Nogueira, da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp), a mudança no padrão dos sorotipos foi evidente:
“Entre 2023 e 2024 tivemos uma epidemia de dengue causada principalmente pelos sorotipos 1 e 2. Em 2024, o DENV-1 praticamente desapareceu, e o DENV-3 começou a crescer. Hoje, ele é o principal agente em São José do Rio Preto”, afirmou o pesquisador à Agência FAPESP.
A situação é preocupante, já que o DENV-3 é considerado um dos sorotipos mais virulentos, ou seja, com maior potencial de causar formas graves da doença. Além disso, a cocirculação de diferentes sorotipos aumenta o risco de reinfecção e, consequentemente, de complicações graves, como a dengue hemorrágica.
O risco de múltiplas infecções
A dengue possui quatro sorotipos principais (DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4), e uma pessoa pode ser infectada por cada um deles ao longo da vida. Contudo, a infecção subsequente por sorotipos diferentes eleva a probabilidade de manifestações graves da doença.
De acordo com o Ministério da Saúde, o DENV-3 e o DENV-2 estão frequentemente associados a quadros mais severos. Em nota recente, a pasta destacou que, após a segunda infecção, o organismo apresenta uma predisposição maior a complicações, independentemente da ordem dos sorotipos.
Prevenção: vacinação e controle do Aedes aegypti
A melhor forma de combater a dengue é a prevenção. A vacina contra a dengue está disponível no Calendário Nacional de Vacinação do Sistema Único de Saúde (SUS) e pode reduzir significativamente os riscos de infecção grave. Além disso, o controle do vetor, o mosquito Aedes aegypti, é essencial.
O Ministério da Saúde recomenda algumas medidas simples para eliminar criadouros e evitar a proliferação do mosquito:
- Uso de telas e repelentes: Proteja janelas com telas e use repelentes em áreas de alta transmissão.
- Eliminação de recipientes: Retire ou tampe recipientes que possam acumular água, como pneus, garrafas e vasos de plantas.
- Vedação de reservatórios: Certifique-se de que caixas d’água e reservatórios estejam bem vedados.
- Manutenção regular: Limpe calhas, ralos e lajes para evitar o acúmulo de água parada.
Um desafio contínuo
A dengue continua sendo uma das principais preocupações de saúde pública no Brasil. Com o retorno de um dos sorotipos mais virulentos, o país enfrenta um novo desafio na luta contra a doença. A combinação de vacinação, controle ambiental e educação da população será determinante para evitar uma nova epidemia e proteger a saúde dos brasileiros.