Apesar dos esforços do governador do Piauí Rafael Fonteles para atrair indústrias, o estado continua atrás de seus vizinhos Ceará e Maranhão na disputa por investimentos de grande porte. Nos últimos anos, Fonteles realizou diversas viagens internacionais — incluindo recentes compromissos na China — e abriu escritórios em países como EUA, Portugal e Estônia para promover o estado. No entanto, os números mostram que o Piauí ainda enfrenta dificuldades significativas para competir com os estados vizinhos, especialmente na captação de projetos de alto valor agregado.
Enquanto o Piauí conseguiu aprovar a instalação de uma indústria de féculas e amidos vegetais na Zona de Processamento de Exportação (ZPE) de Parnaíba, com um investimento de R$ 40 milhões, os resultados são modestos em comparação aos avanços no Ceará e Maranhão. O investimento piauiense representa menos de 0,23% dos R$ 17,5 bilhões que o Ceará conseguiu para seu projeto de hidrogênio verde, o maior do tipo no Brasil, o que evidencia a disparidade na atração de recursos e no impacto econômico entre os estados.
Piauí e Ceará são um contraste dos projetos: da mandioca ao Hidrogênio Verde
Enquanto o projeto no Piauí é voltado para a agroindústria, especificamente a produção de fécula de mandioca, o Ceará e o Maranhão avançam em setores mais inovadores e estratégicos. O Ceará, com seu projeto de hidrogênio verde, desponta na matriz energética sustentável, atraindo investimentos bilionários e a promessa de criar mais de 9.000 empregos diretos e indiretos. O Maranhão, por sua vez, também aposta em tecnologias renováveis, com investimentos focados na produção de combustíveis sustentáveis e a expectativa de gerar 2.300 empregos.
No Piauí, o impacto em termos de empregos é bem mais limitado. O projeto agroindustrial em Parnaíba deverá gerar apenas 40 empregos diretos e 500 indiretos, um número pequeno quando comparado aos milhares de postos previstos nos estados vizinhos. Essa disparidade questiona a eficácia das políticas públicas de atração de investimentos promovidas pelo governo piauiense e pela InvestPiauí, empresa criada por Rafael Fonteles para captar investidores.
Maranhão avança com investimentos em combustíveis renováveis
O Maranhão também se destaca na atração de grandes investimentos, especialmente no setor de combustíveis renováveis. Recentemente, o estado conseguiu a aprovação de um projeto voltado à produção de combustíveis sustentáveis, que prevê um investimento significativo e a criação de 2.300 empregos diretos e indiretos. Assim como o Ceará, o Maranhão está alinhado às demandas globais por sustentabilidade e inovação, apostando em setores de alto valor agregado que prometem transformar a economia local e impulsionar o desenvolvimento regional de forma sustentável e competitiva.
A ZPE de Parnaíba: desafios de diversificação e inovação
A ZPE de Parnaíba, uma das apostas do governo do Piauí para impulsionar a economia local, enfrenta um desafio estrutural: a dependência do setor agroindustrial, de menor valor agregado. Embora a produção agrícola seja importante para a economia local, a falta de investimentos em setores de alta tecnologia limita o impacto transformador que uma ZPE pode ter no desenvolvimento econômico regional. Em contraste, os projetos de hidrogênio verde e combustíveis renováveis no Ceará e Maranhão estão em sintonia com as demandas globais por inovação, sustentabilidade e transição energética, o que atrai mais recursos e empregos qualificados.
A agroindústria, embora vital para o setor rural, não promove o mesmo nível de inovação tecnológica e geração de empregos qualificados que as indústrias de energia renovável. Para o Piauí, diversificar sua base industrial e explorar setores de maior valor agregado são passos essenciais para aumentar sua competitividade no cenário nacional.
As viagens internacionais de Rafael Fonteles e o retorno questionável
Rafael Fonteles tem buscado, através de viagens internacionais, inserir o Piauí no radar de grandes investidores globais. Em países como Inglaterra, Alemanha, Suécia, Espanha, Bélgica, Portugal, Estônia e China, o governador participou de eventos e promoveu o estado como um destino atrativo para negócios. No entanto, o retorno desses esforços, até o momento, não reflete a mesma magnitude dos investimentos captados pelos estados vizinhos.
Embora os escritórios internacionais abertos pelo governo piauiense sejam uma tentativa válida de atrair investidores, a comparação com o Ceará, que tem conquistado grandes projetos na área de energia renovável, e com o Maranhão, que também avança em setores estratégicos, indica que o Piauí ainda está longe de alcançar um patamar similar.
A necessidade de políticas mais eficazes
A disparidade nos investimentos recebidos pelo Piauí em comparação aos vizinhos Ceará e Maranhão levanta uma questão crucial: como tornar o estado mais atraente para projetos de grande porte, especialmente em setores de alta tecnologia e inovação? Para competir de igual para igual, o Piauí precisaria reavaliar suas políticas de incentivos e diversificar sua estratégia, focando em áreas que gerem maior impacto econômico e social.
A criação da InvestPiauí e as iniciativas de Rafael Fonteles mostram uma disposição para mudar esse cenário, mas os números indicam que há muito a ser feito. Atrair investimentos bilionários e gerar milhares de empregos qualificados, como no caso do Ceará, exige uma política mais robusta e voltada para setores de inovação e tecnologia.
Enquanto o Piauí continuar focado em projetos de menor valor agregado, a comparação com os estados vizinhos continuará a evidenciar suas dificuldades em se posicionar como um destino atrativo para indústrias globais.
Memorandos de Entendimento: são garantias de investimento real?
As viagens internacionais realizadas pelo governador Rafael Fonteles e a atuação da InvestPiauí resultaram na assinatura de 23 Memorandos de Entendimento (MOU’s) sobre negócios relacionados a investimentos em Hidrogênio Verde.
Embora esses acordos sejam frutos do esforço de atração de investimentos, é importante entender que, na prática, um MOU não garante investimentos imediatos ou concretos. Memorandos de Entendimento são compromissos preliminares entre as partes, que expressam interesse mútuo em discutir e avançar em projetos conjuntos. No entanto, eles não têm caráter vinculativo, ou seja, não obrigam legalmente as empresas ou os governos a realizar o investimento prometido.
Os MOU’s funcionam como uma fase inicial de negociação, na qual investidores e o governo se comprometem a aprofundar estudos, viabilidades e condições para a concretização de um projeto. Portanto, embora sejam passos importantes no processo de atração de investimentos, esses memorandos não asseguram que o capital será efetivamente injetado no estado. Para que os MOU’s se transformem em investimentos reais, é necessário que as condições negociadas sejam favoráveis e que o ambiente econômico seja suficientemente estável para atrair os recursos, além de haver avanços nas áreas regulatória e fiscal.
A assinatura de 23 MOU’s mostra algum interesse internacional nas apresentações de Rafael Fonteles sobre o Piauí, mas a transformação dessas intenções em projetos concretos dependerá da capacidade do estado em manter o diálogo com investidores, oferecer incentivos competitivos e garantir a infraestrutura necessária para que os projetos sejam viáveis. Sem essas garantias, os memorandos podem permanecer apenas como promessas futuras, sem impacto econômico direto a curto ou médio prazo.