Eleição é uma manifestação da alma humana, e essa alma, rica em sentimentos e emoções, nunca pode ser completamente capturada por números.
Inexata e ilógica como uma paixão, a política desperta numa campanha profundas emoções que são capazes de movimentar as massas. Eleição é sentimento e repleta de arte. Campanhas utilizam ferramentas do cinema, da música, fotografia e artes gráficas para, claro, despertar a emoção do eleitor.
Em todos os lugares do mundo, eleição é sentimento. Menos no Piauí. Aqui, mandam os números, em porcentagem estatísticas e nas estampas do dinheiro vivo.
Nos últimos meses, temos sido inundados por números. Pesquisas eleitorais, essas entidades frias e matemáticas, pretendem nos dizer como votar. Elas substituíram os discursos inflamados, as narrativas inspiradoras e as obras tangíveis por porcentagens e gráficos, muitas vezes distorcidos para servir a interesses específicos. Benjamin Disraeli, o estadista britânico, disse uma vez: “Existem três tipos de mentiras: mentiras, mentiras deslavadas e estatísticas.” E, ao refletir sobre as eleições, fica claro como ele estava certo.
Pesquisas eleitorais são apenas retratos instantâneos de um momento específico, mas são vendidas ao público como previsões infalíveis. Esses números escondem as realidades complexas e as nuances da experiência humana. Eles não capturam o sorriso genuíno de um eleitor quando vê seu candidato favorito, nem o calor de um abraço durante uma caminhada de campanha. Eles não refletem a raiva, a paixão, a alegria ou a decepção que movem o eleitorado.
A eleição é um fenômeno de calor humano, de encontros e confrontos, de aproximações e rejeições. É uma dança emocional que não pode ser quantificada. E aqui reside o perigo das pesquisas eleitorais: ao focar apenas nos números, perdemos de vista o que realmente importa.
Mais alarmante é a facilidade com que essas pesquisas podem ser manipuladas. Metodologias questionáveis, amostras tendenciosas e interpretações enviesadas podem transformar uma ferramenta de medição em um instrumento de propaganda. Os números, quando usados de maneira inadequada, podem ser moldados para servir a narrativas específicas, distorcendo a percepção pública e influenciando indevidamente os eleitores.
No entanto, há uma verdade incontestável que resiste a qualquer manipulação estatística: as urnas. No dia da eleição, quando o eleitor está sozinho na cabine de votação, ele é guiado por suas emoções, suas esperanças e seus medos. As urnas, em sua essência, refletem a vontade genuína do povo.
Devemos, portanto, abordar as pesquisas eleitorais com ceticismo saudável. Reconhecer seu valor limitado e estar conscientes de suas falhas. Não podemos permitir que números frios dominem uma arena tão intrinsecamente humana. Em vez disso, devemos celebrar a complexidade emocional das eleições e confiar na verdade final que emerge das urnas. Pois é nelas que reside a verdadeira voz do povo, livre de manipulações e distorções.